FRASE DO DIA

"Não podemos afirmar que se lê menos hoje do que há três décadas. É possível que se leia de forma diferente" (Míriam de Freitas)



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sobre Ao vencedor, os panetones

Pessoal:
Em tempos de tecnologia, ainda tenho o costume de recortar artigos, anúncios publicitários, manchetes e outros materiais impressos a fim de trabalhar com os meus alunos. Essa foi uma das importantes lições de uma ex-professora da área da Linguítica ainda quando fazia faculdade de Letras.
Por estas "buscas", encontrei um texto o qual me chamou a atenção pelo título: "AO VENCEDOR, OS PANETONES". Escrito por Marcos Rolim, no Jornal Zero Hora, o texto, bem costurado, contempla Administração, relações humanas, Política e...Literatura de forma clara e objetiva. Semana passada, o texto já foi objeto de trabalho e rendeu um ótimo trabalho com uma turma.
Para os meus alunos, fica a dica como leitura e, quem sabe, material de argumentação e, para meus colegas, um possível texto a ser integrado em suas aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no ano de 2010.
Abraços

Ao vencedor, os panetones
Marcos Rolim*


I – O livro de Ori e Rom Brafmam, “A Força do Absurdo” (Objetiva, 228p.) me permitiu conhecer o professor do curso de Administração em Harvard Max Bazernan.
Ele inventou um jogo muito simples para demonstrar a irracionalidade de determinados comportamentos. No primeiro dia de aula, balançando uma nota de 20 dólares, ele propõe aos alunos um leilão por ela. Todos podem fazer ofertas, obedecendo a duas regras: a) os lances devem ser de um dólar e b) o vencedor leva a nota, mas aquele que ofereceu a penúltima oferta perde o valor de seu lance. Pela regra, então, o segundo colocado no leilão é o perdedor. Percebendo a chance de ganhar a nota por um pequeno valor, os estudantes começam a levantar as mãos. Há uma certa agitação até as ofertas alcançarem algo entre 12 e 16 dólares. Neste ponto todos desistem, menos os dois responsáveis pelas ofertas mais altas. Estes ficam em um beco sem saída. O próximo lance será de 17 dólares. A desistência do competidor que ofereceu 16 acarretará um prejuízo razoável, então ele faz o lance de $18 e, assim, sucessiva e alternadamente. Logo, os lances serão superiores a 20 dólares. É comum que, no jogo, os rivais cheguem a mais de 100 dólares e, em uma oportunidade, a disputa terminou em 204 dólares! Ou seja: quanto mais fundo é o buraco que cavam, mais eles cavam.
O erro dos participantes é considerar apenas seus próprios interesses, sem se dar conta que o leilão conduzirá ambos à derrota. Não sei por que me lembrei desta história...
II- Quando tudo vai bem, somos todos muito bons. Temos princípios, claro. Mas conhecemos a realidade dos nossos valores quando as coisas vão mal. É sob pressão, nas condições mais estressantes ou atemorizadoras que emerge aquilo que temos de melhor ou de pior. Então, o gentil vizinho vira um delator sob a ditadura ou o garoto tímido e frágil é o herói da resistência ou o amor de tantos anos e juras se converte em lâmina na separação. Ser honesto é simples. Até um famoso banqueiro – ainda solto - te oferecer uma consultoria de 3 milhões. Então nos descobrimos. Por isso, demonstra conduta ética aquele que ignora ou coloca em risco seus próprios interesses para fazer o que julga ser sua obrigação. Aquele que age em conformidade com o dever, para usar a expressão kantiana. Agora comecei a me lembrar por que me pareceu importante falar disso...
III – Quincas Borba contou a Rubião sobre as duas tribos famintas que disputam uma pequena quantidade de batatas, suficiente apenas para alimentar uma tribo. Se dividirem a comida, nenhuma delas terá força para transpor a montanha e chegar, muito depois, à vertente onde há batatas em abundância. Para Quincas Borba, a paz, neste caso, é a destruição e a guerra, a salvação. Assim, sentencia: “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor as batatas”. A política no Brasil tem sido regrada pela mesma lei da selva em prol do mais forte. Há novidades, é claro. Afinal, agora os pufs são verdes, corruptos rezam e os panetones substituíram as batatas, triunfantes.

*Jornalista, Consultor Público em Direitos Humanos

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